Tarte de Amoras e Pêssegos

Durante muitos anos, fui filha única, sobrinha única, neta única e bisneta única na família. Uma canseira, só vos digo. As responsabilidades eram mais que muitas. Todos os olhos estavam pousados na única criança da família. O que eu fazia ou não fazia era escortinado por toda a gente. Mas claro...não me estou a queixar, porque por outro lado os mimos eram a dobrar, melhor a triplicar. Portanto, é com muito gosto que admito que sou uma verdadeira mimada. E sabem o que me fica na memória dessa vivência verdadeiramente acarinhada? As diversas aventuras em que me metiam. 

Lembro-me perfeitamente de um dia em que os meus tios, quase todos adolescentes ou jovens adultos, me obrigaram a ir à apanha da amora. O objectivo era apanhar a quantidade suficiente para fazer um pudim de amora para cerca de dez pessoas. E nunca vi tanta peripécia junta. Desde nos enganarmos milhentas vezes no caminho e não encontrarmos as amoras, desde nos embrenharmos em mato e ficarmos todos arranhados, até sermos corridos à vassourada por estarmos a colher amores em campos privados.


Porém, o mais caricato aconteceu quando, pequenos leigos na cozinha, nos desafiámos a confeccionar o tal pudim de amora. Só vos posso dizer que tudo no resultado final era péssimo. O cheiro era horrível, o aspecto da consistência era duvidoso e o sabor insuportável. Durante alguns anos não consegui olhar para as amoras da mesma forma, nem comê-las. Mas isso já lá vai. Agora todos os anos me dedico a encher a cozinha com este pequeno tesouro negro.

Este ano para além da habitual compota, decidi que tinha que, pela primeira vez, confeccionar uma tarte de amoras ou que levasse amoras. Descobri uma receita maravilhosa no livro Conservas - Feito em Casa. Não é uma receita difícil, mas sim trabalhosa. Mas acredite, no final, vai valer a pena todo o tempo investido.


INGREDIENTES
Para a massa doce
50gr de açúcar
100gr de manteiga amolecida
1 ovo batido
200gr de farinha
uma pitada de sal
 
Para o glacê
100gr de compota de frutos vermelhos
1 colhers de sopa de água
1 colher de sopa de vinho moscatel

Para o creme pasteleiro
50gr de açúcar
3 gemas grandes
20gr de farinha
20gr de farinha maisena
300ml de leite
raspa de um limão

Para a fruta
200gr de amoras (limpas)
300gr de pêssegos (descascados e cortados às fatias finas)





Para a massa doce, batemos o açúcar e a manteiga amolecida numa tigela e juntamos gradualmente o ovo, a farinha e o sal. Formamos uma bola, envolvemos em película aderente e levamos ao frigorífico por 30 minutos.

Entretanto preparamos o glacê. Aquecemos a compota, a água e o vinho moscatel numa caçarola até que fiquem bem envolvidos, depois coamos com um passador fino. Deixamos arrefecer enquanto confeccionamos o creme pasteleiro.

Misturamos o açúcar e as gemas numa tigela e peneiramos as farinhas. Misturamos até obtermos uma pasta lisa. sem grumos. Aquecemos o leite com a raspa de limão numa caçarola até ferver. Tiramos do lume e adicionamos gradualmente à mistura das farinhas, mexendo com cuidado e com movimentos lentos. Quando o leite estiver todo incorporado vertemo-lo novamente para a caçarola e levamos ao lume para mais uns minutos. Mexemos sempre até o creme o engrossar. Apagamos o lume, tapamos e deixamos arrefecer.

Pré-aquecemos o forno a 180ºC e untamos uma forma com 20 centímetros de diâmetro. Tiramos a massa do frigorífico, estendemo-la e forramos com ela a forma. Picamos a base com um garfo, forramos com papel vegetal e sobrepomos feijões secos. Levamos ao forno por 20 minutos ou até massa ficar dourada. Retiramos o papel e os feijões. Deixamos arrefecer.

Untamos a parte de dentro da massa com parte do glacê e deixamos secar. Sobrepomos o creme pasteleiro arrefecido e dispomos a fruta por cima a gosto. Aquecemos o restante glacê e pincelamos a fruta.




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